A Queda dum Anjo
Autor: Camilo
Castelo Branco
RESUMO
O
personagem Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda era um típico fidalgo
português de boa família. Casou-se por interesse com D. Teodora Barbuda de
Figueiroa, também de boa família, e com ela vivia em Caçarelhos. Era
tradicionalista e estava sempre defasado da realidade, tinha o hábito de ler,
mas apenas autores clássicos. Quando ocupou a presidência da Câmara, mesmo que
por apenas um dia, chegou a pensar em ressuscitar a legislação antiga para
governar.
Calisto
foi eleito deputado e partiu para Lisboa. Na capital, chega a procurar lugares
antigos, que já não existiam por conta de um terremoto, mas que havia visto nos
livros antigos que lia. No parlamento, planejava lutar pela redução dos
impostos, pelo combate ao luxo e estava sempre em defesa da moral e dos bons
costumes. Tornou-se conhecido pela linguagem antiga e difícil. Estava sempre
preocupado em fazer discursos pomposos.
Certo
dia, ao conhecer uma mulher chamada Adelaide, Calisto descobriu que nunca havia
amado de verdade. Mas Adelaide não quis se relacionar com um homem casado. Logo
depois, ele conhece a jovem viúva do general Ponce de Leão. A moça, uma
brasileira, era loira, tinha cerca de trinta anos e foi atrás de Calisto para
conseguir uma pensão. Acabou se apaixonado por ela e lhe montou uma casa.
A partir deste momento, deu-se
uma total transformação na vida do personagem. Calisto passa a adquirir
os costumes modernos que antes condenava. Antes era muito preso ao
passado e as tradições, mas ao final deixa crescer o bigode e o cavanhaque,
veste roupas mais modernas, esquece a esposa Teodora, passa a gastar muito
dinheiro, muda para a oposição e separa-se definitivamente da mulher, que acaba
se casando com um primo.
CONTEXTO
Sobre o
autor
Camilo Castelo Branco foi um dos mais importantes escritores portugueses. Foi pioneiro ao viver exclusivamente da literatura, pois não era comum na sua época. Escrevia para o grande público, mas conseguiu manter uma escrita pessoal.
Importância
do livro
O romance A Queda dum Anjo pode ser considerado uma sátira dos costumes político-sociais de Portugal no período histórico da Regeneração (período de esforço para o desenvolvimento econômico e modernização de Portugal). A obra apresenta o retrato satírico do Portugal velho, simbolizado pelo protagonista. Assim como Calisto, Portugal perde certas virtudes pela veloz modernização, valorizando em excesso elementos de prestígio como a manutenção do bom padrão linguístico.
ANÁLISE
A obra
satiriza o momento histórico de mudança vivido em Portugal com a Regeneração. A
partir das características e da visão do personagem Calisto, o narrador nos
mostra a miséria moral e intelectual do novo panorama político de Lisboa, em
que o liberalismo produz má fé e oportunismo. O texto mostra a preocupação
exagerada com a forma do discurso nas instâncias políticas, quando o principal
deveria ser o assunto em si, em busca de melhorias para a população.
A “queda”
do personagem ocorre quando ele se torna deputado e vai para Lisboa. Lá, ele se
deixa corromper pelo luxo e pelas vantagens trazidas pelo desenvolvimento.
Neste caso, a “queda” se dá em relação a sua personalidade, por ter sido sempre
uma pessoa austera e conservadora. Também ocorre uma “queda” moral a partir do
seu envolvimento com Ifigénia, uma prima distante de quem Calisto se torna
amante. Mantém, assim, uma relação reprovada pela sociedade puritana
portuguesa.
Durante a
transformação de Calisto, podemos apontar também para uma outra crítica
construída no livro. Existe uma reflexão sobre a concepção de literatura e de
suas funções na sociedade moderna. O questionamento se dá por conta do hábito
de leitura da época, o público lia apenas folhetins e romances franceses.
Assim, não existia uma reflexão profunda sobre as mudanças que estavam
acontecendo em Portugal. A leitura, desta forma, só poderia contribuir para a
manutenção de um bom padrão linguístico e não como forma de reflexão
social.
A cidade
de Caçarelhos é a representação do atrasado, um local onde o progresso não
havia chegado e os costumes eram ultrapassados. Enquanto Lisboa é a cidade que
desperta tardiamente e procura modernizar-se rapidamente, mas sofre uma
degeneração de costumes ocasionada por um processo civilizatório que priorizava
de forma excessiva o materialismo, situação favorecida pelo movimento de
Regeneração .
Desta forma, Camilo mistura a
cômico com a tragédia, construindo uma paródia que contém humor, mas que também
retrata os dramas vividos pela sociedade portuguesa da época.
PERSONAGENS
- Calisto: é o protagonista da história.
Ele representa a figura do Portugal Antigo. É um homem que preza pelos bons
costumes, intelectual e defensor do bom uso da linguagem. Transforma-se ao
longo da narrativa, deixando-se corromper pelo luxo de Lisboa.
- Teodora: é mulher de Calisto.
Provinciana, não desperta muito interesse do marido, era uma mulher pacata e
“do lar”. Ao fim, irá cometer adultério.
- Dr. Libório Meireles: o “Doutor do
Porto”, com quem Calisto não se dá muito bem. É um orador parlamentar balofo,
tagarela, afetado e formalista.
- Ifigénia: é uma mulher interessante,
brasileira, viúva do brigadeiro Ponce de Leão. Irá se aproximar de Calisto no
intuito de pedir ajuda para receber uma pensão pela morte do marido. Torna-se
amante de Calisto.
- Brás Lobato: um homem provinciano que
tem importância em Caçarelhos, mas em Lisboa torna-se cômico pela sua
ignorância.
- Abade de Estevães: faz a conexão entre
Calisto e os outros deputados. Não toma partido para não se aborrecer com
ninguém.
- Dr. Libório: deputado com um discurso
cheio de pompa, mas de pouco conteúdo. Representa a figura do Portugal Novo.
- D. Catarina Sarmento: personagem
romântica. Desiste de cometer adultério por causa dos conselhos de Calisto.
- D. Adelaide: era noiva de Vasco da Cunha. Conserva uma amizade por
Calisto por ele ter salvado o casamento da irmã, Adelaide. Ao conhecê-la,
Calisto descobre que não sabia o que era o amor.
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