Claedis - Literatura - Etc...

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terça-feira, 17 de maio de 2011

ATO DE NARRAR


Contar e ouvir história é uma atividade atávica, isto é, que remonta aos nossos antepassados mais distantes. Desde que o mundo é mundo, o ato de narrar fascina o homem e o de ouvir histórias o hipnotiza. Xerazade, a protagonista das Mil e uma noites, para evitar que o sultão, seu marido, a matasse, o entreteve com 1.001 histórias ao final das quais o soberano, além de não mandar matá-la, também apaixonou-se por ela.

Narrar é discorrer sobre fatos. É contar. Consiste na elaboração de um texto que relate episódios, acontecimentos. Ao contrário da descrição, que é estática, a narração é eminentemente dinâmica. Nela predomina os verbos. Aqui o importante está na ação.

Escrevendo a sua história, você está produzindo uma narração escrita , que, justamente por ser escrita, deve prender-se às formas específicas que nossa língua assume nessa modalidade. Fique atento, pois há importantes diferenças entre o que se narra oralmente e o que se narra por escrito.

ESTRUTURA DA NARRATIVA

É comum que um texto narrativo apresente a seguinte estrutura:

Apresentação – é parte do texto em que são apresentados alguns personagens e expostas algumas circunstâncias da história, como o momento e o lugar em que a ação se desenvolverá. Cria-se, assim, um cenário e uma marcação de tempo para os personagens iniciarem suas ações. Atente para o fato de nem todo texto narrativo tem essa primeira parte: há casos em que já de início se mostra a ação em pleno desenvolvimento.

Complicação – é a parte do texto em que se inicia propriamente a ação: por algum motivo, acontece alguma coisa ou algum personagem toma uma atitude que dá origem a transformações no estado inicial, expressas em um ou mais episódios. Encadeados, esses episódios se sucedem conduzindo ao clímax.

Clímax – é o ponto da narrativa em que a ação atinge seu momento crítico, tornando inevitável o desfecho.

Desfecho – é a solução do conflito conduzido pelas ações dos personagens. Restabelece-se o equilíbrio, podendo haver espaço para uma avaliação de tudo que foi narrado.

EXEMPLO:

Conto Cruel

A uremia não o deixava dormir.
A filha deu uma injeção de sedol.

_ Papai verá que vai dormir.
O pai aquieto-se e esperou. Dez minutos...
Quinze minutos... vinte minutos...
Quem disse que o sono chegava? Então, ele
Implorou chorando:

_ Meu Jesus-Cristinho!

Mas Jesus-Cristinho nem se incomodou.
(Manoel Bandeira)

ELEMENTOS DA NARRATIVA

A essência da ficção é a narrativa, respondendo os seus elementos a uma série de perguntas. São elas:

a) Quem participa dos acontecimentos? (personagens)
b) O que acontece? (enredo).
c) Onde e em que circunstâncias acontece? (o lugar dos fatos, ambiente e situação)

Em síntese, a narrativa de um fato ou vários é feita com base em alguns elementos, tais como:

O quê? – o acontecimento a ser narrado;
Quem? – a personagem principal (protagonista) e a personagem secundária (antagonista);
Como? – a maneira como se desenrolou o acontecimento;
Quando? – o tempo da ação;
Onde? – o local do acontecimento;
Por quê? – a razão do fato;
Por isso – o resultado ou conseqüência.

Na redação narrativa, o fato é o núcleo da ação, sendo o verbo elemento valioso por excelência. Ao escrevermos uma narração, é importante que uma só situação a centralize e envolva as personagens. Deve haver um centro do conflito, um núcleo do enredo. A narração distingue e ordena os fatos.

A sua essência é a criatividade.

O texto narrativo é eminentemente temporal e espacial. Envolve a ação, o que produz a personagem, o agente do processo narrativo.

Esta modalidade de texto transita por um fio condutor que leva a uma situação denominada « clímax » ou « nó », decaindo numa « resolução » ou epílogo. O segredo da narrativa concentra-se no grau de« suspense » criado, bem como no fecho surpreendente.

FORMAS DE RELATAR O ENUNCIADO


A relação verbal emissor/receptor efetiva-se mediante o que chamamos discurso. A narrativa vale-se de tal recurso, efetivando o ponto de vista ou foco narrativo.

a) Quando o narrador participa do enredo, é personagem atuante, diz-se que é narrador personagem ou participante. Isso constitui o foco narrativo ou ponto de vista da 1ª pessoa.

EX.: “_ Is this an elephant? Minha tendência imediata foi responder que não; mas a gente não deve se deixar levar pelo primeiro impulso. Um rápido olhar que lancei à professora bastou para ver que ela falava com seriedade e tinha o ar de quem propõe um problema.”
(Rubem Braga, Aula de Inglês)

b) Chamamos narrador-observador ao que serve de intermediário entre o episódio e o leitor – é o foco narrativo de terceira pessoa.

EX.: Os dois cabras se aproximaram sem que ele pressentisse. Eram um alto e um baixo; o baixo grosso e escuro, vestido numa camisa de algodãozinho encardido. O alto era alourado e não se podia dizer que estivesse vestido de coisa nenhuma, porque era farrapo só. (...)
O velho até se assustou e bruscamente se pôs a cavalo na rede, a escutar a voz grossa e áspera, tal e qual quem falava:
_ Cidadão, vim lhe vender este couro de bode.”
(Raquel de Queirós)

c) Ocorrem casos em que o narrador é classificado como onisciente, pelo fato de dominar o lado psíquico de suas personagens, antepondo-se às suas ações, percorrendo-lhes a mente e a alma.

EX.: “Na rua vazia as pedras vibravam de calor – a cabeça da menina flamejava. Sentada nos degraus de sua casa, ela suportava. Ninguém na rua, só uma pessoa esperando inutilmente no ponto de bonde. E como se não bastasse seu olhar submisso e paciente, o soluço a interrompia de momento a momento, abalando o queixo que se apoiava companheiro na mão... na rua deserta nenhum sinal de bonde. Numa terra de morenos, ser ruiva era uma revolta involuntária.”
(Clarisse Lispector)

FORMA DO DISCURSO

1. O DISCURSO DIRETO constitui a técnica do diálogo. É a personagem em atividade, animizada, falando. Estrutura-se, normalmente, com a precedência de dois-pontos e inicia-se após um travessão.

EX.: “Botou as mãos na cabeça e a boca no mundo:
_ Nossa senhora, meu patrãozinho me mata!”
(F. Sabino)

2. O DISCURSO INDIRETO caracteriza-se pelo emprego da subordinação sintática, impedindo a fala da personagem.

EX.: “ D. Evarista ficou aterrada. Foi ter com o marido, disse-lhe que estava com desejos.”
(M. de Assis)

3. DISCURSO INDIRETO LIVRE é uma mescla do discurso direto com o indireto, proporcionando um movimento interno da fala, o monólogo interior.

EX.: “Sinhá Vitória falou assim, mas Fabiano franziu a testa, achando a frase extravagante. Aves mataram bois e cavalos, que lembrança! Olhou a mulher, desconfiado (...)”

EXEMPLOS DE NARRAÇÃO:

1. EDUARDO E MÔNICA
(Renato Russo)

Quem um dia irá dizer que não existe razão nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer que não existe razão?
Eduardo abriu os olhos mas não quis se levantar: ficou deitado e viu que horas eram, enquanto Mônica tomava um conhaque, noutro canto da cidade, como eles disseram.
Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer e conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer. Foi um carinha do cursinho do Eduardo que disse:
_ Tem uma festa legal e a gente quer se divertir.
Festa estranha, com gente esquisita:
_ Eu não estou legal. Não agüento mais birita.
E a Mônica riu e quis saber um pouco mais sobre o boyzinho que tentava impressionar e o Eduardo, meio tonto, só pensava em ir pra casa:
_ É quase duas, eu vou me ferrar.
Eduardo e Mônica trocaram telefone, depois telefonaram e decidiram se encontrar. O Eduardo sugeriu uma lanchonete, mas a Mônica queria ver o filme do Godard.
Se encontraram então no parque da cidade, a Mônica de moto e o Eduardo de camelo.
O Eduardo achou estranho e melhor não comentar, mas a menina tinha tinta no cabelo.
Eduardo e Mônica eram nada parecidos – ela era de Leão e ele tinha dezesseis. Ela fazia Medicina e falava alemão e ela ainda nas aulinhas de inglês. Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus, de Van Gogh e dos Mutantes, de Caetano e de Rimbaud e o Eduardo gostava de novela e jogava futebol-de-botão com seu avô.
Ela falava coisas sobre o Planalto Central, também magia e meditação e o Eduardo ainda estava no esquema “escola, cinema clube, televisão”.
E, mesmo com tudo diferente, veio mesmo de repente, uma vontade de se ver. E os dois se encontravam todo dia, e a vontade crescia, como tinha de ser.
Eduardo e Mônica fizeram natação, fotografia, teatro e artesanato e foram viajar.
A Mônica explicava pro Eduardo coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar: ele aprendeu a beber, deixou o cabelo crescer e decidiu trabalhar; e ela se formou no mesmo mês em que ele passou no vestibular. E os dois comemoram juntos e também brigaram juntos, muitas vezes depois. Todo mundo diz que ele completa ela e vice-versa, que nem feijão com arroz.
Construíram uma casa uns dois anos atrás, mais ou menos quando os gêmeos vieram – batalharam grana e seguraram legal a barra mais pesada que tiveram.
Eduardo e Mônica voltaram pra Brasília e a nossa amizade dá saudade no verão. Só que nessas férias não vão viajar porque o filhinho do Eduardo tá de recuperação.

2. A OPINIÃO EM PALÁCIO

“O rei fartou-se de reinar sozinho e decidiu partilhar o poder com a Opinião Pública.
_ Chamem a Opinião Pública – ordenou aos serviçais.
Eles percorreram as praças da cidade e não a encontraram. Havia muito que a Opinião Pública deixara de freqüentar lugares públicos. Recolhera-se ao Beco sem Saída, onde, furtivamente, abria só um olho, isso mesmo lá de vez em quando.
Descoberta, afinal, depois de muitas buscas, ela consentiu em comparecer ao Palácio Real, onde Sua Majestade, acariciando-lhe docemente o queixo, lhe disse:
_ Preciso de ti.
A Opinião, muda como entrara, muda se conservou. Perdera o uso da palavra ou preferia não exercitá-lo. O Rei insistia, oferecendo-lhe sequilhos e perguntando o que ela pensava disso e daquilo, se acreditava em discos voadores, horóscopos, correção monetária, essas coisas. E outras. A Opinião Pública abanava a cabeça: não tinha opinião.
_ Vou te obrigar a ter opinião – disse o Rei, zangado. – Meus especialistas te dirão o que deves pensar e manifestar. Não posso mais reinar sem o teu concurso. Instruída devidamente sobre todas as matérias, e tendo assimilado o que é preciso achar sobre cada uma em particular e sobre a problemática geral, tu me serás indispensável.
E virando-se para os serviçais:
_ Levem esta senhora para o Curso Intensivo de Conceitos Oficiais. E que ela só volte aqui depois de decorar bem as apostilas.”

3. “Num repente, relembrei estar em noite de lobisomem – era sexta-feira...

Já um estirão era andado quando, numa roça de mandioca, adveio aquele figurão de cachorro, uma peça de vinte palmos de pêlo e raiva...
Dei um pulo de cabrito e preparado estava para a guerra do lobisomem. Por descargo de consciência, do que nem carecia, chamei os santos de que sou devocioneiro:
_ São Jorge, Santo Onofre, São José!
Em presença de tal apelação, mais brabento apareceu a peste. Ciscava o chão de soltar terra e macega no longe de dez braços ou mais. Era trabalho de gelar qualquer cristão que levasse o nome de Ponciano de Azeredo Furtado.
Dos olhos do lobisomem pingava labareda, em risco de contaminar de fogo o verdal adjacente. Tanta chispa largava o penitente que um caçador de paca, estando em distância de bom respeito, cuidou que o mato estivesse ardendo. Já nessa altura eu tinha pegado a segurança de uma figueira e lá de cima, no galho mais firme, aguardava a deliberação do lobisomem. Garrucha engatilhada, só pedia que o assombrado desse franquia de tiro. Sabidão, cheio de voltas e negaças, deu ele de executar macaquice que nunca cuidei que um lobisomem pudesse fazer. (...) Sujeito especial em lobisomem como eu não ia cair em armadilha de pouco pau. No alto da figueira estava, no alto da figueira fiquei.”
(José Cândido de Carvalho)

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